Corretor que não Corrige…

… mas não o delete. Na maioria das vezes, é funcional. Desta forma, é apenas necessário* um pouco de atenção.

Invenções e descobertas, de maneira geral, são idealizadas já com função de facilitar ao máximo as atividades de quem as usa. Isso é tão óbvio que destacar parece idiotice. O computador traz consigo essa prerrogativa à enésima potência – tão latente que acaba invadindo outras áreas do comportamento humano, segundo psicólogos especialistas. As facilidades que o computador imputa na vida funcional das pessoas criam o fenômeno da confiança quase extrema. E aí tem-se um grande problema. Com o advento da internet, a grande maioria das pessoas passou a acreditar muito facilmente em tudo que é lido/visto neste estranho mundo de frios fios inexistentes – talvez compensando a falta de confiança que baseia as relações humanas atuais, segundo também alguns psicólogos terapeutas (mas essa é outra história, claro).

Os aplicativos de edição de texto, que aposentaram em definitivo as mais modernas máquinas de datilografia, são instrumento facilitador de diversas funções, especialmente as que têm a escrita como base. E assimilou boa parte daquela confiança quase absoluta. Essa condição, aliada à falta de hábito de leitura do brasileiro, acaba causando grande problemas.

Convém ter sempre em mente que corretores ortográfico-gramaticais nem sempre corrigem, apenas sugerem outro termo, deduzindo que o autor do texto quereria dizer algo diferente. Dependendo da configuração adotada, não é comum, por exemplo, sugerir plurais de verbos porque termos muito próximos estão no plural, como na seguinte situação:

  • Você digita O homem que levou dezenas de objetos voltou para apanhar mais ainda
  • O Word sugere voltaram

O digitador, se desconhecer regras simples de concordância ou estiver atrasado na entrega do texto, certamente se deixará levar pela correção do aplicativo. Isso deve ter acontecido na manchete e no texto abaixo:

Erros em Manchetes

Imagem: Twitter @silvioluiz

Erros em Manchetes

Imagem: Twitter @notmarya

Caso a falha não tenha sido brincadeira de mau gosto dos redatores, certamente foi influência do tal corretor ortográfico, que sugeriu outros termos na intenção de ser o mais assertivo possível para o usurário.

Outra situação bastante corriqueira é o corretor informar que não se separa o sujeito do predicado. E ele tem razão: essa é uma das regras básicas da gramática portuguesa. Contudo, na tentativa de ser funcional e interessante, o corretor corrige até quando não pode. Veja:

  • Você digita A mulher, esse ser extraordinário, aproxima-se mais da magia quando dá à luz

O Word sugere que se retire a vírgula após “mulher” e o redator mais incauto aceita a sugestão. Contudo, nesse caso, as vírgulas são necessárias porque o trecho entre elas é chamado aposto e não faz parte do predicado.

Quando você constrói trechos gramaticais semelhantes a as donas de casa levam a casa nas costas, o tal corretor sugere que use acento grave em “a casa”, o que estaria completamente dissonante das regras da crase.

Assim, é necessário ter muita atenção ao digitar textos em aplicativos que contenham corretores ortográfico-gramaticais. São amigos bipolares: podem acariciar num momento e esbofetear no seguinte**.