Alguns vocábulos ou modelo de construção frásica surgem ocasionalmente e acabam se tornando febre no meio editorial e nas redes sociais especialmente. Quase sempre, esse fato é produto de modismos que, por sua vez, nem sempre reproduzem regras gramaticais e de expressividade consideradas ideais. É o caso da palavra mesmo.
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Outros se tornaram indicação de falta de capacidade redacional. Há alguns anos, o conceito de gerundismo foi amplamente discutido. E combatido. Fruto de estratégias de telemarketing americano, infiltrou-se na Língua Portuguesa e causou conflitos com as normas de nossa língua
Outro caso, um pouco mais antigo, deu-se com a palavra nível. Construção como a nível de ou pelo nível de tornaram-se entrave para coesão e expressividade adequada. Eram usadas por redatores jovens, na maioria dos casos, como maneira de se sentir adentrados em algum grupo, em algum clã.
Houve ainda vez para reengenharia, via de regra, companhado por algum termo complementar. A prática tornava textos e reuniões cansativos, sem atrativos, com precisamos de reengenharia de gestão ou nosso relacionamento deve passar por reengenharia ou ainda como conseguir uma vaga de emprego sem boa reengenharia?
Afinal, mesmo é mesmo errado?
Não, certamente, mas isso depende do uso que se dá ao termo, o que ocorre com todas as palavras. Deve-se ter em mente que mesmo assume diversas funções gramaticais, mas jamais a de pronome pessoal.
O exemplo mais evidente, mais clássico de uso indevido desse termo é observado diariamente por quem acessa prédios que disponham de elevadores. Certa norma de segurança promulgada por alguma prefeitura (dizem ter sido a de S. Paulo) obrigava que o anúncio abaixo fosse instalado às portas dos elevadores:
Equívoco no uso de “mesmo”
Ocorre que, guardada a intenção de se promover segurança para usuários, a frase contém erro crasso de gramática. O problema é que a maioria das prefeituras e câmaras municipais aderiu à ideia por julgá-la excelente forma de melhoria de imagem política.
E o erro se alastrou por todo o país.
Então, qual é o uso correto?
Não é “um uso correto”, mas vários. Exceto como pronome pessoal.
Bem, pronome pessoal são os termos que substituem outro já mencionados como agentes atuantes ou passivos de verbos. Sua função prática é evitar repetição de palavras na mesma frase ou parágrafo. Veja:
– Maria está lendo este artigo. Maria recebeu sugestão de amiga. Maria o tem lido com atenção.
Note que a leitura da oração acima se mostra bem estranha, não agradável. A repetição do nome Maria causa tal estranheza. E isso em uma oração com poucas palavras; imagina-se em um texto longo. Nesse cenário, a construção ideal é a seguinte:
– Maria está lendo este artigo. Ela recebeu sugestão de amiga e o tem lido com atenção.
Note que ela é pronome pessoal do caso reto (ou seja, tem função de sujeito, de agente do verbo). Somente essa classe de pronomes assume essa condição.
Eis, então, o erro encontrado no uso de mesmo/mesma.
Veja:
– Maria está lendo este artigo. A mesma recebeu sugestão de amiga e o tem lido com atenção.
Perceba que “mesma” é agente do verbo “recebeu”, o que transforma o termo em agente. Ou seja, uso indevido.
Usos corretos de mesmo/mesma
Como se viu acima, há situações diversas em que se aplica uso correto desse termo.
Pronome Demonstrativo
Mesmo pode referir-se a espaço, tempo, agente ou até a trecho de um texto, retomando-os no contexto para reforçar ideias. Há diversos termos que funcionam como tal:
- o, a, os, as, se equivalerem a isto, isso, aquele, aquela e aquelas
- próprio; tal
- este, esta, esses, essas, aquele(s) e aquela(s)
Exemplo de mesmo como pronome demonstrativo é:
– Maria está lendo esse artigo; vou fazer o mesmo.
Adjetivo
Muitos teóricos preferem classificar mesmo/mesma como adjetivo essencialmente.
– Estamos acessando este mesmo site até agora.
Advérbio
Há função de reforço para advérbios.
– Estaremos neste site mesmo até amanhã.
Conectivos diversos
- Reflexividade: Maria olhou a si mesma.
- Conjunção subordinada: Ela permaneceu lendo este artigo mesmo cansada.
- Expressões idiomáticas: Isso vai dar no mesmo.
Sobre:
Gerundismo, veja este artigo
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